julho 20, 2005

O início


A saber todo o ciclo tem três fases.O início, o durante e o fim. O princípio é sempre doloroso, um passo para o desconhecido, o despertar para uma nova situação, o abrir os olhos para uma nova realidade e daí uma certa relutância, uma resistencia interior...
Era algo extremunhada aquela noite, varrida pela ventania e colorida por relâmpagos prenunciadores, que apesar da temperatura ser elevada, ou talvez por isso, ajudava a criar um ambiente soturno, melancólico, denso e abafado. O desafio estava lançado. Cada pergunta suscitava a devida resposta, que se encaixava na perfeição, qual peça de um lego gigantesco onde ia tomando forma um estado de alma que alimentado pela sedutora torrente de palavras corretamente empregues, no tempo e no modo, inebriava as ideias, tolhia os movimentos, mesmo os mais simples, e fazia com que uma fina gota de suor deslizasse subreptíciamente pela espinha abaixo inviabilizando o êxtase. Até que um braço nú terminado em mão aberta de dedos finos e unhas roídas, avançando intermitentemente, estimulado pelas palavras certas, insistindo até ao limite da paciencia, logrou colocar a derradeira peça, que completou o lego e mais não era do que a frase mágica.

2 Comments:

Blogger mar revolto said...

Entre a tua "casmurrice" cheguei a ti, aqui.
E viajando no tempo, chego a ti por outros meios, outras cumplicidades, e fico enternecida neste texto carregado de sentidos e sentires e nessa viagem, recordo a primeira poesia trocada num pps que nos levaria à troca de muitas outras.

Desejos vãos

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a Árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza…
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!

Florbela Espanca "Sonetos"


Felicidades neste cantinho ainda criança, mas que de certeza irá crescer, embora nunca chegue a superar a tua grandeza!
Um beijo grande da Lina

8:10 da tarde  
Blogger Menina Marota said...

Quando entro pela primeira vez num blog, gosto de "conhecer" o seu autor. É como olhar nos olhos dessa pessoa e, sentir o interior da sua alma.

E eu li-te e absorvi as tuas palavras...

Grata por esta partilha que fazes... é bom ler-te.

Gostaria de linkar-te, posso?

Um abraço e um feliz domingo ;)

11:28 da manhã  

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