Sentir

Quando a gente sente
e tem de calar o sonho
abre uma ferida latente
devagar sempre a doer
o semblante tristonho
por dentro está a sofrer
com a vontade adormecida
por uma tristeza imensa
a alma está despida
e o corpo mexe mas não pensa

Pai

Hoje é dia do Pai,
diz a lei
Não é que isso me afecte
nem muito, nem pouco
Mas estou contente,
porque sou Pai
Sinto-me um passarinho,
porque gosto de ser Pai
Não sou nem quero ser,
o chefe
Não fui escolhido nem escolhi,
aconteceu
E estou sempre presente,
para ser apenas e sempre
O querido, o velho, o amigo

À noite

Está convencionado que neste dia se comemora algo de
especial. O ser neste dia não me diz nada, o ser especial
diz-me tudo. Um beijo para todas as mulheres do mundo.
De dia ou de noite...

À noite...
Longos são os silencios que pairam na escuridão
acorrentados ás sombras e sempre a alastrar
acordam os medos e repetem-se as amarguras
murmuram as marés a encher e a vazar

Enroscam-se os corpos por suar
em angulos concavo e convexo
abrem-se as asas do sonho
como lume aceso a crepitar
num ritmo alucinante e sem nexo

Agitam-se os sonos das almas penadas
o desejo e a ternura ausentes a despertar
por entre o nevoeiro das ideias emaranhadas
a tristeza e o abandono dos que não sabem amar

Vivem-se horas de alegria e felicidade
trocam-se beijos e abraços como flores
cruzam-se fados memórias e amizade
momentos de glória de quem se perde de amores